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Viés inconsciente: o que é e como lidar?

Por 13 de março de 2020abril 16th, 2021Para negócios, Diversidade e inclusão6 min de leitura

Imagine que você está experimentando roupas em uma loja, assistindo a final do seu reality show preferido ou mesmo selecionando pessoas para trabalhar em sua organização. Seja durante o seu momento de lazer seja no seu ambiente profissional, em uma escolha bastante individual ou extremamente coletiva, o seu modo de pensar e a sua tomada de decisão são sempre influenciados pelo seu viés inconsciente.


O viés, ou tendência, é um peso desproporcional em favor ou contra uma coisa, pessoa ou grupo, que pode ser considerado injusto quando enseja tratamentos desiguais. Por mais pessoal que seja, podem ser mantidos por um indivíduo, um grupo, uma instituição ou até um povo.

Os vieses inconscientes são os estereótipos sociais que formamos fora da nossa própria consciência. É fato que todo mundo tem crenças inconscientes sobre vários grupos sociais e identitários, e esses preconceitos decorrem da nossa tendência de organizar o mundo através de categorias – como se tudo precisasse estar em uma caixinha. Assim, fica muito mais fácil de buscar uma informação em nossa mente.

Os pesquisadores Nosek, Banaji e Greenwald analisaram dados de milhões de pessoas e descobriram, por exemplo, que a maioria dos norte-americanos brancos podem, mais rápida e facilmente, associar pessoas brancas a coisas boas do que pessoas negras a coisas boas, e a maioria dos homens e mulheres podem associar, mais rápida e facilmente, homens à ciência do que mulheres à ciência. E essas associações não necessariamente se alinham com o que as pessoas conscientemente pensam. 

Outro exemplo está relacionado ao conflito de interesse. Tendemos a subestimar o quanto um pequeno presente, como uma caneta esferográfica ou um jantar, pode afetar nossa tomada de decisão. Não nos damos conta de que nossa mente está inconscientemente juntando evidências que apoiem o ponto de vista da pessoa/empresa que dá o presente, mesmo que estejamos conscientemente tentando ser objetivos e profissionais.

O livro “Subliminar: como o inconsciente influencia nossas vidas” é uma boa referência para entendermos como nossas ações e pensamentos são influenciados. Leonard Mlodinow, o autor, aborda uma nova concepção de inconsciente na psicologia e na neurociência, também explorada no livro “Rápido e devagar: duas formas de pensar”, de Daniel Kahneman. A ideia é que captamos e usamos informações do ambiente basicamente de duas maneiras: de uma maneira mais automática e inconsciente ou de uma maneira mais controlada e consciente. 

Quando nossa “mente inconsciente” está no comando, ela preenche lacunas no nosso conhecimento e usa alguns truques para guiar nossas ações sem que a gente perceba, permitindo-nos assim realizar feitos incríveis, mas, infelizmente, também pode nos levar a erros igualmente “incríveis” e indesejáveis.

Já no livro ‘Escute o que ela diz’, de Joanne Lipman, a autora e palestrante do TED Talks explica o conceito de viés com um exemplo bastante antigo: 

“(…) para nossos primeiros ancestrais, isso foi literalmente a diferença entre a vida e a morte. Se um homem saísse de sua caverna e visse um animal, ele não teria tempo para processar conscientemente que: a criatura tinha pelo, então não era humana; pernas fortes, por isso devia correr rápido; dentes afiados, então devia ser carnívora; e… hum, peraí, deve ser um tigre. Até que ele avaliasse conscientemente tudo isso, já teria virado almoço. O viés inconsciente permitiu ao homem das cavernas entender que estava em perigo e se mandar dali o quanto antes.”

Apesar do exemplo pré-histórico, hoje o viés inconsciente ainda entra em ação sempre que vemos alguém que não é como nós. Além disso, reforça os estereótipos mais básicos, passando de um item essencial de autoproteção a uma causa de discriminação social e, o que é um dos objetos do livro citado, a perda de produtividade nas empresas. Mas o que tem a ver o viés inconsciente com o sucesso de uma empresa?

Estes vieses possuem um impacto claro no nosso dia a dia pois corroboram com o preconceito que se sustenta com base em etnia, raça, idade, gênero, orientação sexual, habilidades físicas, religião, peso, dentre outras características. Eles podem ter efeitos em todas as nossas relações, mas um dos aspectos mais afetados por ele, e que vem sendo bastante discutido nos últimos anos, é a diversidade no mercado de trabalho

Na hora de uma contratação, por exemplo, se o responsável do RH não tiver foco nas competências profissionais das pessoas candidatas, pode agir de maneira discriminatória e escolher um candidato menos preparado pelos motivos errados, resultando em equipes compostas por pessoas com perfis similares. 

Equipes formadas por homens brancos graduados nas melhores faculdades podem não ser um reflexo fiel da oferta de profissionais preparados no mercado, mas uma mera tendência natural da área de recrutamento em contratar perfis tidos como vencedores, perpetuados no passado ou parecidos com eles próprios. Faz sentido?

A chave para entender os vieses inconscientes é ter a consciência de que, além de abundantes, eles são muitas vezes incompatíveis com nossos valores conscientes. Em alguns cenários eles podem ser mais prevalentes, como ao realizar tarefas múltiplas ou trabalhar sob pressão de tempo.

Mas a boa notícia é que nas últimas três décadas, nossa compreensão do viés inconsciente evoluiu, sua natureza é bem compreendida e instrumentos para avaliá-lo foram desenvolvidos e testados. Existem inúmeros tipos de vieses, sendo que os 5 principais:

  1. Viés de Afinidade: é a tendência de avaliar melhor quem se parece conosco, como em questões de gênero, raça, idade, histórias de vida, entre outros;
  2. Viés de Percepção: quando reforçamos estereótipos que são definidos por influência da sociedade ou cultura na qual estamos inseridos;
  3. Viés Confirmatório: procuramos informações que confirmem as nossas hipóteses iniciais e rejeitamos as que são contrárias;
  4. Efeito de halo/auréola: exibimos uma preferência inconsciente com apenas uma informação positiva ou agradável da pessoa, o que nos leva a avaliar positivamente todo o restante das informações;
  5. Efeito de grupo: seguimos o padrão de um grupo. A pressão que é colocada pelo grupo pode fazer com que todos busquem convergir com a mesma ideia.

Tendo a ciência de quais são os vieses e porque eles existem, o que podemos fazer para trabalhá-los?

  • Reconhecer que temos vieses inconscientes;
  • Identificar quais são os nossos vieses inconscientes;
    • Existem Testes de Associação Implícita (ITAs) disponíveis na internet, que nos ajudam a identificar. Se quiser fazer, clica aqui!
  • Pedir que outros nos apontem no momento em que temos um pensamento ou ação que possa estar sendo influenciado por um viés inconsciente;
  • Buscar interagir com pessoas diferentes do seu perfil, tanto na vida pessoal quanto no trabalho.
    • Estudos comprovam que a falta de interação com grupos distintos é um das principais motivos para o preconceito. Assista esse TED!

Já no universo do recrutamento e seleção, algumas dicas práticas podem diminuir o preconceito nas contratações, como expor os preconceitos de forma clara e objetiva, desenvolver uma comunicação que atraia diferentes perfis, pré-selecionar minorias de forma intencional e estruturada, dentre outros.

Apesar de imenso desafio, uma jornada ativa de autoconhecimento e busca por informação poderá te ajudar a diminuir ou eliminar os preconceitos que insistem em influenciar seus pensamentos e decisões. Vamos nessa?

E se você precisar de ajuda, conte com a gente! A Eureca é uma consultoria de RH, e um de nossos serviços são treinamentos e programas de desenvolvimento corporativo. Você pode ver mais informações na nossa página de serviços, e se quiser, pode nos enviar uma mensagem em mkt@eureca.me.

Victor Feitosa

Comunicólogo cearense que atua com programas de desenvolvimento pessoal. Um estudioso e apaixonado por educação, liderança e diversidade. Acredita que esses três pilares podem mudar o mundo se tivermos as pessoas certas nos lugares certos. No mais, adora filmes de terror, séries intrigantes e música pop.

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